Sessões de autógrafos
Conheça as(os) autoras(es) e as obras que integram as sessões de autógrafos e suas respectivas datas. As sessões ocorrem sempre das 17 às 17h30, na tenda da feira de livros.
Priscila Finger de Prado | Cartas feministas: mulheres e leituras nas Novas Cartas Portuguesas |
Fernando Gil | Pelo prisma rural – ensaios de literatura brasileira |
Carlos Alberto Faraco | Gramática do português brasileiro escrito |
Adriana Baggio | As mulheres famosas |
Estevão Chaves de Rezende Martins | Teoria e Filosofia da História: contribuições para o ensino de História. |
José Thomaz Mendes Filho | Economia e valores substantivos: Ética, dignidade humana e sustentabilidade ambiental no contexto econômico |
Jamil Zugueib Neto | Psicanálise, Catástrofe Social e o Trauma: Resistência e resiliência da comunidade Xiita do sul do Líbano aos bombardeios de Israel em 2006 |
Rodrigo Barbosa Gonçalves | Desvendando as abelhas: o que são e por que conservá-las |
Carlos Alberto Medeiros Lima | Por um rosário de penitenciárias: Ideário político de Nicolau Vergueiro, bacharel, parlamentar, fazendeiro e negociante de grosso trato (1811-1859) |
Maria Isabel Limongi | Hume, a justiça e o pensamento político moderno |
Thiago Bagatin | Manicômio judiciário: a reclusão disfarçada de cuidado |
Tatiana Dantas Marchette | Um esboço para dois Brasis: a trajetória político-intelectual do historiador Brasil Pinheiro Machado |
José Adil Blanco de Lima | A obra de Henri Hauser e sua trajetória intelectual no Brasil |
Priscila Finger do Prado
Doutora em Letras pela UFPR. Atualmente é professora no Departamento de Metodologia de Ensino da Universidade Federal de Santa Catarina. Tem experiência na área de Letras, com ênfase em Literatura Brasileira, Literatura Portuguesa, Estudos feministas, Letramento literário, Linguística e Língua Portuguesa.
Cartas Feministas
Colocando-se também como voz que conversa com as “manas”, por meio de suas novas “cartas brasileiras”, que se entremearam a ensaios críticos e amostras literárias, Priscila apresentou um trabalho que conseguia reafirmar a importância da revisão das hierarquias e dos estatutos estabelecidos por uma visada masculina, patriarcal da relação de leitoras e autoras, intérpretes e livros, mais uma vez borrando as fronteiras entre objeto e perspectiva, inserindo-se como parte do processo que analisa e reconhecendo-se como beneficiária e partícipe da conversa que busca, ainda hoje, não apenas atualizar as discussões de Mariana e em torno de Mariana, mas na verdade dar a ver, renovadamente, aquela mulher original, hoje já transformada em mito e matéria literária: buscando maneiras cada vez mais refratadas de gerar dela uma imagem mais direta.
Fernando Cerisara Gil
Doutor em Teoria da Literatura e História Literária pela Universidade Estadual de Campinas. Professor Titular da UFPR. Atua na área de Letras, com ênfase em Literatura Brasileira. Estuda as relações entre literatura e sociedade, entre crítica literária e pensamento social, bem como a evolução das formas narrativas. Desenvolve, atualmente, pesquisa sobre as relações entre matéria rural, ensaísmo e a formação do romance brasileiro nos séculos XIX e XX. É pesquisador do CNPq. Foi coordenador o Grupo de Trabalho Literatura e Sociedade da Associação Nacional de Pós-Graduação em Letras e Linguística (2018-2020).
Pelo Prisma Rural: Ensaios de Literatura Brasileira
Pelo prisma rural é um livro que busca repensar e desentranhar ângulos e problemas diferentes que envolvem uma das categorias centrais de compreensão da literatura brasileira: o regionalismo. O movimento proposto nos ensaios reunidos é duplo e complementar. De um lado, persegue as configurações do conceito desde a sua emergência no pensamento literário, com suas estreitas ligações com a formação política e social do país, até os usos e dimensões variados em que se sobressai como umas das forças constitutivas de tensão e de conflito no campo literário. De outro, persegue as formas diversas de a ficção brasileira fazer falar o mundo rural, a partir da análise de romances que vão de Afonso Arinos a Itamar Vieira Junior, passando por Graciliano Ramos, Clarice Lispector e Guimarães Rosa.
Carlos Alberto Faraco
Doutor em Linguística – University of Salford. Professor Titular (aposentado) da UFPR, tendo sido Reitor da instituição entre 1990 e 1994. Tem experiência na área de Linguística, com ênfase em Linguística Aplicada, atuando principalmente nos seguintes temas: Bakhtin, discurso, dialogismo, ensino de português e linguística, história do pensamento linguístico. Está vinculado ao Grupo de Pesquisa HGEL-Historiografia, Gramática e Ensino de Línguas (UFPB/CNPq).
Gramática do Português Brasileiro Escrito
O Brasil espera há duzentos anos por este livro. Em meio a tudo o que faltou e ainda falta para consumar a independência plena do país, inaugurada no plano político formal em 1822 pelo “grito do Ipiranga”, a consciência de nossos direitos linguísticos é talvez a falha mais importante no campo cultural, além de ser uma das mais evidentes no dia a dia da população. A Gramática, de Vieira e Faraco, se debruça sobre a língua majoritária que se escreve no Brasil da vida real, isto é, a língua brasileira ― ou portuguesa brasileira, conforme a preferência do freguês, embora o nome não importe tanto. O que se encontra em suas páginas é uma espécie de síntese do saber acumulado ao longo de décadas em estudos sistemáticos no campo da linguística, da sociolinguística e da gramática normativa séria, sobre um idioma estruturalmente diferente do português europeu.
Adriana Tulio Baggio
Doutora em Comunicação e Semiótica pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, com estágio (doutorado-sanduíche) na Universidade de Bologna. É pesquisadora do Centro de Pesquisas Sociossemióticas da PUC-SP e docente em cursos de graduação e pós-graduação desde 2002.
As Mulheres Famosas
O que uma mulher precisa ser ou fazer para se tornar famosa? No fim da Idade Média, Giovanni Boccaccio, o autor do Decamerão, compôs As mulheres famosas, um conjunto de 106 biografias dedicadas especialmente a nomes da mitologia e da história da Antiguidade greco-romana. A fama dessas mulheres veio muitas vezes da beleza e dos laços de parentesco, mas também de feitos profissionais e políticos e da recusa em agir conforme delas se esperava. Elas foram governantes, líderes militares, inventoras, artesãs, artistas, intelectuais, prostitutas. Algumas foram belas, castas e exemplares no papel filial, conjugal e maternal, e outras conquistaram fama por atitudes ou atividades “masculinas”. Foram boas e más, às vezes as duas coisas juntas, e chegamos a nos perguntar se o tratamento dado às mulheres pelo escritor medieval não seria mais liberal do que alguns discursos de hoje. As mulheres famosas é uma tradução inédita em língua portuguesa do De mulieribus claris de Giovanni Boccaccio e recebeu chancela do Ministério das Relações Exteriores e da Cooperação Internacional da Itália por meio do Edital 2023 de apoio à tradução.
Estevão Chaves de Rezende Martins
Doutor em Filosofia e História – Universitaet Muenchen (Ludwig-Maximilian). Professor emérito da Universidade de Brasília e Doutor honoris causa pela Universidade Federal de Ouro Preto. Trabalha com os seguintes temas: teoria e metodologia da história, história política e institucional do Brasil, cultura histórica, história contemporânea (Europa, União Europeia e relações internacionais) e história política (Brasil, Europa ocidental e relações internacionais).
Teoria e Filosofia da História – Contribuições para o Ensino de História
O livro “Teoria e Filosofia da História – Contribuições para o Ensino de História está dividido em duas partes: a primeira intitulada “Fundamentos” refere-se a discussões dos campos da teoria e da filosofia da história e contém debates sobre verdade, moral, pesquisa, consciência e cultura histórica, historicismo além de um ensaio de tipologia comparativa com base em suas discussões. Há também uma segunda parte intitulada “Práticas” dedicada a possibilidades de análises com base nas discussões teóricas anteriores com um esforço de aproximação das discussões a respeito da aprendizagem histórica, discussões sobre a formação humana e uma abordagem sobre a proposta de Jörn Rüsen 38 sobre as matrizes do pensamento histórico.
José Thomaz Mendes Filho
Doutor em Meio Ambiente e Desenvolvimento pela UFPR. Professor associado da UFPR. Tem experiência na área de Engenharia de Produção, com ênfase em Engenharia Econômica, atuando principalmente nos seguintes temas: economia de engenharia, engenharia econômica, sustentabilidade socioambiental, comportamento do produtor e interdisciplinaridade.
Economia e valores substantivos
Decisões e ações econômicas exercem influência significativa sobre as vidas dos seres humanos e sobre o meio ambiente natural. Deve-se, portanto, por preceito ético, observar, adequada e simultaneamente, o efetivo compromisso com o reconhecimento universal da dignidade humana e com a sustentabilidade ambiental. Essa é a ideia central que suscitou o desenvolvimento da reflexão empreendida neste livro. Propõe-se uma perspectiva desenvolvida a partir da ética da virtude, cuja origem remonta a Aristóteles, e de uma concepção de ética ambiental identificada como antropocêntrica e ambientalmente responsável, em conformidade com a ideia de que a ação genuinamente ética precisa manter engajamento com o bom e o bem, para si e para os outros. Em síntese, entende-se que uma sociedade decididamente comprometida com a dignidade humana não pode ser insensível à permanência de condições de vida indignas; que o compromisso social ambiental efetivo e consequente requer adotar medidas de abrangência coletiva, incentivadas por meio de política fiscal e monetária; que o conceito de viabilidade econômica deve priorizar a observação desse duplo compromisso.
Jamil Zugueib Neto
Doutor em Psicologia – Université Toulouse le Mirail. Coordenador do Grupo de Pesquisa no Cnpq: Centro de Estudos dos Processos Identitários, das crises e da cultura árabe. Participa do conselho de pesquisa da revista EPOS (on-line) e faz consultoria à Fundação Araucária do Paraná e da Fundação de Pesquisa do Espírito Santo.
Psicanálise, Catástrofe Social e o Trauma: Resistência e resiliência da comunidade Xiita do sul do Líbano aos bombardeios de Israel em 2006
Nesta obra são analisados o traumatismo e os fatores de resistência psíquica em situações de catástrofes sociais, como nos bombardeios de Israel ao sul do Líbano em 2006. Abordam-se as raízes históricas da violência no Oriente Médio e o surgimento das correntes do pensamento radical islâmico. No trajeto histórico sobre os conflitos no País dos Cedros, são citadas, mesmo que brevemente, as invasões israelenses e seus projetos geopolíticos nutridos pela ideologia expansionista do sionismo. Sua aliança com a comunidade cristã maronita na Guerra Civil Libanesa (1975-1990) fez parte de um projeto para dividir o Líbano e expulsar os muçulmanos de suas fronteiras. Na superposição do trauma individual e do trauma coletivo que se produz na luta de resistência às continuadas invasões israelenses, as lembranças que se procuram recalcar, de cenários insuportáveis que inevitavelmente acontecem, inscrevem-se em três tempos: o tempo do acontecimento, um tempo de latência e um tempo no qual o acontecimento produzirá seus efeitos, como também as expressões para a sua simbolização. Nesse desenrolar, a introjeção do sujeito às mensagens de seus mitos fundadores e a identificação à ideologia etnoconfessional é fator capital de reforço subjetivo no enfrentamento a esse real catastrófico. O cenário de morte e a falta de perspectiva em suas vidas futuras provocam no cidadão comum o luto continuadamente inacabado e a desolação melancólica. Nas conclusões, é abordado o estado de melancolização que se abate sobre o homo arabicus da atualidade, enraizado em contextos de memórias feridas, de suspeição confessional, de violência política, e do desgaste em se traçar eternamente projetos que não serão realizados. As interpretações finais partem das pesquisas realizadas com os drusos na Guerra Civil de 1975-1990 e alcançam a comunidade xiita do Jabal Amil em 2006. Essa determinação operacional fortalece a qualidade desta publicação em nosso meio tão distanciado dos acontecimentos no Oriente Médio, região que é, por excelência, produtora da radicalização identitária e de projetos políticos extremos que se fundamentam na escatologia religiosa.
Rodrigo Barbosa Gonçalves
Doutor em Zoologia pelo Instituto de Biociências da Universidade de São Paulo junto ao Museu de Zoologia. Professor na UFPR desde 2011, tem experiência na coordenação de cursos de graduação e como tesoureiro da Sociedade Brasileira de Entomologia. Atualmente é Coordenador do Programa de Pós-Graduação em Entomologia, editor-chefe da Acta Biológica Paranaense e é editor associado da Revista Brasileira de Entomologia.
Desvendando Abelhas: O que são e por que conservá-las
Desvendando as abelhas apresenta informações sobre a biologia desses insetos e também discussões acerca dos principais riscos à sua sobrevivência, como a alteração de ambientes naturais e o uso intensivo de inseticidas. Aspectos da história da pesquisa com abelhas no Brasil são também debatidos. A abordagem adotada aqui pretende trazer dados científicos oriundos de pesquisas realizadas, sobretudo, com a fauna brasileira, a fim de fomentar o debate baseado na ciência. Além da conhecida abelha-do-mel e das incríveis abelhas-sem-ferrão, busca-se tratar dos aspectos comuns das vinte mil espécies de abelhas conhecidas no mundo todo, sendo duas mil presentes no Brasil. Assim, a obra é organizada em 25 capítulos e dividida em três partes. A primeira examina os modos de vida desses organismos e de seus principais subgrupos, como construção de ninhos, comportamento social e suas relações com as flores. A segunda tematiza o início de pesquisas sobre a diversidade de abelhas brasileiras, com um resgate histórico dos principais personagens envolvidos na descrição de espécies do Brasil. Já a terceira parte debate as ameaças às abelhas e como esses riscos têm sido estudados no país e no mundo. Em linguagem de popularização da ciência e com charges no final de cada capítulo, este livro é escrito para ambientalistas, apicultores e meliponicultores, estudantes de graduação das áreas de ciências agrárias e biológicas, pesquisadores interessados em abelhas e também para todos os amantes da natureza.
Carlos Alberto Medeiros Lima
Doutor em História Social pela Universidade Federal do Rio de Janeiro. Professor titular de História da UFPR. Tem experiência na área de História, com ênfase em História do Brasil Colônia e do período imperial, além de História da América, atuando principalmente nos seguintes temas: escravidão, tráfico de escravos, história da escravidão comparada nas Américas, história das doenças e história das ideias nas Américas.
Por um Rosário de Penitenciárias
Um discurso de Vergueiro de 1828: “escravos, animais, barcos, má¬quinas, instrumentos, e quaisquer utensílios aplicados à cultura de um prédio rústico, à preparação, manufatura de suas produções ou à exportação destas para o lugar do mercado, os frutos pendentes e os colhidos que forem destinados ao consumo, e todas as oficinas […] farão com o mesmo prédio um todo com a natureza”. “Todo com a natureza”. Isso misturava artifício com naturalidade, vínculos associativos com ligações independentes de vontades. A fazenda não era extensão, espaço, mas “prédio rústico”, simulta¬neamente edificado e pré-social. Encadeava escravos, animais e ou¬tros elementos artificiais e naturais. Englobava frutos ainda ligados à planta e à terra e outros já à beira do mercado, ênfase tecnológica (“oficinas”) e o dado imperativo do “natural”, aludindo à condução enérgica dessa ligação nervosa. A fazenda virava o microcosmo da vida social e política, expressão do regramento extremo, mas des¬centralizado. O Brasil, imensa coleção de todos com a natureza, era projetado como um arquipélago de prisões.
Maria Isabel Limongi
Doutora em Filosofia pela Universidade de São Paulo. Professora titular da UFPR e pesquisadora do CNPq. Sua pesquisa versa sobre as relações entre Estado e sociedade no pensamento político moderno – em especial, nos pensamentos políticos de Thomas Hobbes e David Hume, dedicando-se no presente a pensar as raízes do conceito de Democracia moderna no século XVIII, sob a ótica desta relação.
Hume, a justiça e o pensamento político moderno
Estamos acostumados por uma longa tradição da história da filosofia a considerar Hume como a expressão mais alta do chamado “ceticismo inglês” e cujo mérito maior teria sido o de ter despertado Kant do “sono dogmático”. Maria Isabel Limongi nos traz um outro Hume, um desconhecido entre nós: não apenas o pensador do Tratado sobre a natureza humana e da Investigação sobre os princípios da moral, nem simplesmente o grande historiador da instituição do Estado Inglês, mas a articulação dos fios de suas obras numa tecelagem única, fazendo-nos ver o filósofo que inaugura a compreensão do conceito de justiça não mais em termos morais e econômicos, mas como processo histórico, instituição social e política. Clareza, rigor e elegância da escrita, conhecimento profundo da obra de Hume e de seus contemporâneos, Maria Isabel Limongi toma posição tanto com relação aos demais filósofos anteriores e posteriores a Hume quanto com relação aos comentadores de sua obra, como é o caso, entre vários exemplos, da minuciosa e elaborada discussão sobre o que há de ser uma teoria da justiça em Hume considerando-se o que, em nossos dias, tem sido desenvolvido a partir da obra de John Rawls. Limongi parte em busca do movimento pelo qual Hume pensa a instituição da regra e da norma, evidenciando não apenas Hume mais próximo de Maquiavel do que de Grotius, Puffendorf e Locke, mas também o (surpreendente) significado sociopolítico da teoria humana sobre o juízo de gosto. Estamos, pois, diante de um livro não apenas inovador, mas decisivo sobre o papel inaugural da filosofia de Hume na formação do pensamento político moderno.
Thiago de Sousa Bagatin
Doutor em Psicologia pela Universidade Estadual de Maringá. Atuou como psicólogo no Instituto de Defesa dos Direitos Humanos (IDDEHA), no Complexo Médico Penal e na Penitenciária Feminina do Paraná. Professor da Universidade Federal do Mato Grosso do Sul, pesquisador e ativista na área de saúde mental e direitos humanos, coordena o projeto de extensão Tekoa Rape, com foco nas aldeias indígenas de Curitiba e litoral do Paraná. Tem publicações na área de educação, política sobre drogas e saúde mental.
Manicômio judiciário: a reclusão disfarçada de cuidado
Desde a construção dos primeiros manicômios judiciários no Brasil, há mais de 100 anos, presenciamos a contradição entre atenção à saúde mental e lógica punitivista do sistema prisional. Considerando esse fato, a presente obra analisa cuidadosamente a legislação e o contexto do início do século XX. Em seguida, apresenta os casos bem-sucedidos da Itália e do estado de Goiás como exemplos de localidades em que os manicômios judiciários foram definitivamente fechados; empreende um estudo de caso apurado sobre uma pessoa com diagnóstico psiquiátrico em conflito com a lei; expõe as diferentes configurações dos manicômios judiciários no período fordista e pós-fordista e, por fim, aborda como o discurso da “periculosidade” vem cumprindo um papel fundamental na manutenção das pessoas com transtornos mentais encarceradas nos manicômios judiciários. A obra denuncia que a internação em manicômio judiciário não tem por objetivo a preocupação com a saúde mental, mas, sim, a punição por um crime que, mesmo quando o sujeito é absolvido, permanece como fundamento organizativo de tais instituições. Em síntese, o autor argumenta que a “periculosidade” pode habitar muito mais o Estado do que o louco-criminoso.
Tatiana Dantas Marchette
Doutora em História pela UFPR. Entre 2004 a 2009, exerceu a coordenadoria da Divisão de Documentação Permanente do Departamento Estadual de Arquivo Público do Paraná. Desde 1996, é Curadora da Coleção A CAPITAL, que publica livros sobre a memória urbana pelo selo Factum Editora, empresa da qual é sócia-gerente. Membro do ICOMOS Brasil e da Comissão de Acervos da Diretoria o Patrimônio da Fundação Cultural de Curitiba.
Um esboço para dois Brasis: a trajetória político-intelectual do historiador Brasil Pinheiro Machado
A importância da história como área do saber no contexto do Primeiro Centenário da Emancipação Política do Paraná, em 1953, lança luz sobre a trajetória de Brasil Pinheiro Machado, autor, para aquele evento comemorativo cívico, do Esboço de uma sinopse da história regional do Paraná. O percurso desse historiador paranaense, entre 1928 e 1996, traz informações inusitadas e contribui para reforçar o perfil de um tipo de intelectual brasileiro, qual seja, aquele engajado na esfera pública em prol da construção da nacionalidade e do Estado. A atenção ao Esboço como fio condutor afastou visões viciadas, pois essa obra serve enquanto um guia que aponta de maneira enfática para a dimensão pública do intelectual da geração de Brasil Pinheiro Machado e como índice da impossibilidade de se delimitar, a priori, um plano de pesquisa atrelado à análise das relações estabelecidas no ambiente acadêmico como única garantidora para a compreensão do pensamento historiográfico de seu autor.
José Adil Blanco de Lima
Doutor em História Social pela Universidade de São Paulo. Atualmente é Professor Colaborador da Universidade Estadual do Norte do Paraná. Tem experiência em pesquisas nas áreas de História da Historiografia, Historiografia Brasileira, Historiografia Francesa e Teoria e Metodologia da História.
A obra de Henri Hauser e sua trajetória intelectual no Brasil
O estudo atento e criterioso sobre Henri Hauser (1866-1946) ilumina um personagem pouco conhecido e, sobretudo, raramente discutido de modo aprofundado pela historiografia, tanto no Brasil como na própria França, mas da maior relevância para a transformação do campo dos estudos históricos em ambos os países. Tal perspectiva, de saída, já evidencia a singularidade da investigação empreendida, que teve de enfrentar ainda o difícil, quando não impossível, acesso aos escritos de Hauser e a inexistência de um arquivo pessoal que pudesse ser explorado. A despeito de todas as limitações, contudo, Jose Adil nos oferece pelo menos três contribuições de importância ímpar. A primeira delas é, obviamente, a apresentação da obra e da trajetória intelectual de Henri Hauser para o público acadêmico brasileiro, o que ele faz de modo bastante claro e refinado. Associado a isso vem o redimensionamento crítico do momento historiográfico francês do período 1870-1920, cuja expressão maior foi a chamada “escola metódica”, escapando à memória vitoriosa instituída pelos seus sucessores dos Annales, particularmente Lucien Febvre – o que o leva a lançar também outras luzes sobre os próprios Annales, estes, sim, tão conhecidos entre nós. Por fim, há a análise do período em que Hauser esteve no Brasil, na década de 1930, como professor da recém-criada Universidade do Distrito Federal, e de sua contribuição para a constituição do então nascente campo historiográfico acadêmico brasileiro. Como todo bom trabalho de história da historiografia (e de história, simplesmente), o texto de José Adil esclarece e provoca, traz respostas e lança perguntas, avança no que se sabe e deixa o caminho aberto para que outras e outros sigam adiante. A historiografia brasileira agradece – e tomara que a francesa também possa lê-lo o quanto antes.