Por Alan Santiago
Neste 11º Feirão de Livros Editora UFPR, 36 entre as maiores editoras do país ofertam juntas centenas de títulos com desconto mínimo de 40%. As listas com os livros em promoção, que podem ser acessadas aqui no site, revelam um catálogo variado, que vai desde textos acadêmicos até literatura.
Para que o leitor não se perca em meio a tantas ótimas possibilidades de compra, a Editora UFPR separou dez pérolas — entre lançamentos e tesouros escondidos, de diferentes casas editoriais. As indicações abaixo são um convite para que o passeio pelas estantes e prateleiras virtuais seja ainda mais agradável.
Destaques gerais
1. A revolução burguesa no Brasil: ensaio de interpretação sociológica, de Florestan Fernandes (Contracorrente)
Há muitos anos fora de catálogo, este estudo do sociólogo paulistano é um marco da área por olhar de maneira inovadora para as especificidades do desenvolvimento capitalista no Brasil. Ele mostra como as transformações econômicas e suas respectivas consequências sociais aconteceram numa chave autocrática, mesmo em tempos democráticos, mantendo ao longo das décadas as graves desigualdades que todos conhecemos.
2. O romance de Tristão, de Béroul (Editora 34)
Enfeitiçados por uma poção mágica, o cavaleiro Tristão e a rainha Isolda se apaixonam perdidamente e precisam manter essa relação proibida longe do rei Marco, da Cornualha, de quem são, respectivamente, sobrinho e esposa. Mas, claro, nem tudo sai como o planejado, e Béroul, autor sobre o qual quase nada se sabe, apresenta em 4485 versos cenas empolgantes de prisões, fugas, juramentos traídos, flagras e golpes do destino. Traduzida pelo professor Jacyntho Lins Brandão a partir do francês do século XII, a obra faz parte do ciclo arturiano, com histórias de cavalarias igualmente cheias de aventura e reviravoltas fantásticas.
3. A civilização do Ocidente medieval, de Jacques Le Goff (Editora Vozes)
Um dos melhores trabalhos sobre a Idade Média ocidental escrito por um dos maiores especialistas do mundo no assunto. Le Goff trata desde os aspectos políticos da instalação do medievo na Europa até a cultura material e a mentalidade daquelas populações. Pode ser considerada uma pesquisa abrangente e acessível sobre um período da história humana ainda cercado de preconcepções e conceitos distorcidos.
4. A Eva futura, de Villiers de L’Isle-Adam (Edusp)
Este romance de 1886, pioneiro na ficção científica, conta a história de Thomas Edison — ele mesmo, o cientista norte-americano, que na época ainda estava vivo — e sua busca por construir o protótipo da mulher perfeita. O autor, um francês simbolista amigo de
Mallarmé e Huysmans, enxerga ironicamente a questão do progresso e a problemática ética em torno das tecnologias.
5. Desobedecer, de Fédéric Gros (Ubu)
Um ensaio acerca dessa palavra que preocupa os pais, apavora os reis e desestabiliza os governos: desobediência. Partindo de questionamentos filosóficos sobre por que desobedecemos, o trabalho analisa textos clássicos e contemporâneos refletindo a respeito das diversas formas pelas quais os seres humanos se submetem ou se insurgem contra o que lhes oprime. Segundo Gros, para que o status quo se mantenha, é preciso mais do que apenas se conformar à ordem; é imperioso “superobedecer”.
Destaques da Editora UFPR
1. O presidente, de Thomas Bernhard
Uma série de atentados terroristas de viés anarquista está assassinando altos funcionários da república. Em meio ao caos, o presidente e a primeira-dama se preparam para o funeral do velho capitão, morto num desses episódios de violência. Nesta peça irônica, que teve estreia na Áustria em 1975, fica evidente como a produção teatral de Bernhard não está distante da obra em prosa dele: a mordacidade dos personagens em relação aos outros e à sociedade austríaca permanece intacta.
2. Descolonizando metodologias, de Linda Tuhiwai Smith
Mais do que sugerir o conteúdo do livro, o título deste trabalho é uma convocação para que seja repensado o referencial metodológico usado em pesquisas com os povos indígenas. Smith critica o modo como o conhecimento científico foi instrumentalizado para servir à política imperialista europeia, apenas classificando os povos originários sem levá-los em consideração como sujeitos. A autora debate também os problemas e prioridades atualmente discutidos pela própria comunidade indígena.
3. A cela enorme, de E. E. Cummings
Conhecido muito mais por sua arte poética, o estadunidense também se aventurou pela prosa. Neste romance autobiográfico — traduzido aqui pela premiada escritora paranaense Luci Collin —, o autor reelabora o período em que esteve preso num campo de concentração francês durante a Primeira Guerra Mundial. O leitor se defrontará nestas páginas com personagens no mínimo exóticos e lerá um relato pungente sobre os infortúnios de um conflito armado.
4. Colapso, de Carlos Taibo
O diagnóstico de Taibo sobre o futuro é assustador: o sistema vai colapsar; e não demorará muito para que isso aconteça. Entender precisamente o que causará essa hecatombe planetária é o objetivo do professor espanhol. Para isso, analisa o esgotamento das matérias-primas, a falta de água, a fome, as guerras etc. Mas não há apenas destruição no estudo; algumas alternativas possíveis são apontadas como saída para a crise iminente.
5. Bifurcação, de Mauro Guidi-Signorelli
O vencedor do II Concurso Literário Editora UFPR transita, como escreve Francisco R. S. Innocêncio na apresentação, “por temas difíceis como a solidão, a irrealizabilidade do desejo, a inexorabilidade da morte ou a fragmentação da individualidade com surpreendente humor e leveza”. Em dez narrativas curtas, o livro é uma viagem para dentro do ser humano contemporâneo ao mesmo tempo hiperconectado e solitário.